Não temos nenhum produto para mostrar no momento.

Nota: Esta reportagem está escrita com linguagem inclusiva.
É na Rua Moçambique, no 46A, nos Anjos, que se encontra a Zona Franca, uma associação sem fins lucrativos, criada há cerca de seis anos. Apesar de terem ocorrido várias mudanças a nível de funcionamento e objetivos, a evolução tem acontecido de forma muito orgânica. Sara e Rosa pertencem aos órgãos sociais da Casa Franca, como antes era chamada.
A Associação
A Zona Franca surgiu, para Rosa, da necessidade, por parte de um grupo de amigxs, em encontrar um espaço no qual pudessem estar juntxs e desenvolver vários tipos de atividades - algo inovador, que viesse dar resposta às suas vontades e que, até então, não existia na cidade.
A Zona Franca é exatamente isso - uma Zona Franca - onde tudo se passa e tudo pode acontecer de uma forma natural e dinâmica, livre de autoridade [acrescenta Sara] - livre de estigmas, preconceitos, onde as pessoas podem dar azo àquilo que elas são.

São essencialmente as pessoas que vivem ou trabalham no bairro que passam pela Zona Franca, mas que estão dentro de determinada faixa etária, estilo de vida e com possibilidades financeiras limitadas. A maior parte das pessoas que por lá passam não têm uma vida considerada normal, ou seja, não casam, criam família e vivem assim.
Estas pessoas podem partilhar casa aos 40, 50 anos e têm amigos que vêm muitas vezes substituir a família. O objetivo é tornar as coisas acessíveis para essas pessoas, através de workshops que sejam de livre acesso e que não se tenha que pagar 50 ou 100 euros para aprender acerca de qualquer tema.
Temos bastantes pessoas ligadas ao meio artístico, músicos, bailarinos, fotógrafos, estudantes, trabalhadores, muitos estrangeiros que vêm estudar, que vêm fazer um Erasmus, um mestrado, uma residência artística, que acabam por ficar mais tempo.
​
Segundo Sara, o grande desafio passa por conseguir chamar o resto do bairro, de forma a incluir pessoas que não têm só esse tipo de características, mas que porventura até já tenham filhos e que desejam levá-los a conhecer a associação, até pelo conceito diferente com que esta se destaca.
A partir do momento em que se entra na Zona Franca, não se é cliente, mas sim sócix, se houver vontade de entrar no espaço. Quem está ao pé do balcão do bar explica o que é a Zona Franca e como as pessoas se podem tornar sócias, logo à entrada. O processo é simples e basta preencher numa folha de excel com o nome e o e-mail e, por senso comum, contribuir com pelo menos um euro para o espaço. Mas será que toda a gente é bem vinda?
Sara diz que já expulsou duas pessoas que estavam alcoolizadas, exatamente por estarem a incomodar e a tratar mal as pessoas que estavam ali. A ideia é explicar que estão a perturbar o ambiente e a faltar ao respeito às pessoas que ali estão e que portanto, não é conciliável estarem ali.
São muitas as pessoas por que passam na Zona Franca, sendo que algumas entram uma vez e não voltam, outras familiarizam-se com o espaço e costumam ir lá.
​
Isto é uma coisa um bocadinho etérea, acontece e depois vais para a vida mas o espaço fica.
​
Rosa acrescenta que a partir do momento em que se entra na Zona Franca, acaba por se manter uma ligação ao espaço, “fica sempre aquele saudosismo, miminho em relação ao espaço.”
O espaço é carregado de cor, decoração e ornamentos repletos de simbologia. Desde cartazes feministas que começam nas portas da entrada, a autocolantes antifascistas, é assim que a Zona Franca se poderia mostrar em termos ideológicos.
Sara afirma que “pouco do que temos aqui foi comprado. A maior parte das coisas foram oferta”. A associação gasta dinheiro em coisas consumíveis, como por exemplo em alimentos que usam na cantina. No que toca à decoração, esta está sujeita a mudar diariamente. “De dia para dia fazemos mudanças com coisas e mobílias que recolhemos e aproveitamos”, diz Sara. Muito do que conseguem para a Zona Franca é conseguido através de doações.
Rosa revela que “ainda há pouco tempo tivemos um amigo (agora sócio) que tinha um espaço de restauração que encerrou e doou-nos a maior parte das coisas que tinha lá, como equipamentos de cozinha”. Como explica uma das representantes da associação, isto aconteceu com o intuito de melhorar as condições do espaço.
Contudo, Sara e Rosa defendem que não é possível assumirem-se como associação enquanto isto ou aquilo, porque na verdade cada pessoa tem a sua maneira de pensar e no fundo, o que a Zona Franca reflete, é cultura.
Como Sara refere, não é possível, à partida, para quem está dentro da associação, perceber se quem entra pela primeira vez é de uma certa maneira, que não corresponda ao que é esperado lá dentro.
​
É assim, à partida é muito difícil, tu sem falares com uma pessoa saber se são contra ou a favor, ou seja, não fazemos uma entrevista e um exame. A Zona Franca, até nesse sentido, é franca, porque nós não temos uma ideologia fixa.
São essencialmente as pessoas que vivem ou trabalham no bairro que passam pela Zona Franca, mas que estão dentro de determinada faixa etária, estilo de vida e com possibilidades financeiras limitadas. A maior parte das pessoas que por lá passa não tem uma vida considerada normal, ou seja, não casa, cria família e vive assim.
​
Estas pessoas podem partilhar casa aos 40, 50 anos e têm amigxs que vêm muitas vezes substituir a família. O objetivo é tornar as coisas acessíveis para essas pessoas, através de workshops que sejam de livre acesso, em que não tenham que pagar 50 ou 100 euros, para aprender acerca de qualquer tema.
Temos bastantes pessoas ligadas ao meio artístico, músicos, bailarinos, fotógrafos, estudantes, trabalhadores, muitos estrangeiros que vêm estudar, que vêm fazer um Erasmus, um mestrado, uma residência artística, que acabam por ficar mais tempo.
​
Segundo Sara, o grande desafio passa por conseguir chamar o resto do bairro, de forma a incluir pessoas que não têm só esse tipo de características, mas que, porventura, até já tenham filhxs e queiram levá-los a conhecer a associação, até pelo conceito diferente por que esta se destaca.
​
A partir do momento em que se entra na Zona Franca, não se é cliente, mas sim sócix, se houver vontade de entrar no espaço. Quem está ao pé do balcão do bar explica o que é a Zona Franca e como as pessoas se podem tornar sócias, logo à entrada. O processo é simples e basta preencher numa folha de Excel com o nome e o e-mail e, por senso comum, contribuir com pelo menos um euro para o espaço. Mas será que toda a gente é bem vinda?
Sara conta que já expulsou duas pessoas que estavam alcoolizadas, exatamente por estarem a incomodar e a tratar mal as pessoas que ali estavam. A ideia é explicar que estão a perturbar o ambiente e a faltar ao respeito às pessoas e que portanto, não é conciliável estarem ali.
São muitas as pessoas que passam na Zona Franca, sendo que algumas entram uma vez e não voltam, outras familiarizam-se com o espaço e costumam ir lá.
​
Isto é uma coisa um bocadinho etérea, acontece e depois vais para a vida mas o espaço fica.
​
Rosa acrescenta que a partir do momento em que se entra na Zona Franca, acaba por se manter uma ligação ao espaço, “fica sempre aquele saudosismo, miminho em relação ao espaço.”
​
O espaço é carregado de cor, decoração e ornamentos repletos de simbologia. Desde cartazes feministas que começam nas portas da entrada, a autocolantes antifascistas, é assim que a Zona Franca se poderia mostrar em termos ideológicos.
​
Sara afirma que “pouco do que temos aqui foi comprado. A maior parte das coisas foram oferta”. A associação gasta dinheiro em coisas consumíveis, como por exemplo em alimentos que usam na cantina.
No que toca à decoração, esta está sujeita a mudar diariamente. “De dia para dia fazemos mudanças com coisas e mobílias que recolhemos e aproveitamos”, revela Sara. Muito do que conseguem levar para a Zona Franca é adquirido através de doações.
​
Rosa revela que ainda há pouco tempo tiveram "um amigo - agora sócio - que tinha um espaço de restauração que encerrou e doou "a maior parte das coisas que tinha lá, como equipamentos de cozinha”. Como explica a mesma, isto aconteceu com o intuito de melhorar as condições do espaço.
​
Contudo, Sara e Rosa defendem que não é possível assumirem-se como uma associação com um conjunto de ideias fixas, porque na verdade, contam, cada pessoa tem a sua maneira de pensar e, no fundo, o que a Zona Franca reflete é cultura.
​
Como Sara refere, não é possível, à partida, para quem está dentro da associação, perceber aquilo em que acredita uma pessoa que lá entra pela primeira vez, ou seja, se corresponde ou não àquilo que é esperado lá dentro.
​
É assim, à partida é muito difícil, sem falares com uma pessoa, saber se são contra ou a favor, ou seja, não fazemos uma entrevista e um exame. A Zona Franca, até nesse sentido, é franca, porque nós não temos uma ideologia fixa.
Ainda assim, Sara e Rosa acreditam que a maior parte das pessoas pertencentes à Zona Franca é feminista. Sejam homens ou mulheres, ninguém tolera agressões machistas.
A maior parte somos mulheres, independentes, trabalhadoras, sem quaisquer problemas de nos assumirmos enquanto mulheres, enquanto as nossas opções, sejam elas as que forem.
Rosa afirma: “A minha liberdade termina onde começa a tua. Há é que saber o limite até onde vai a minha liberdade e onde é que começa a tua. Qualquer pessoa pode entrar na Zona Franca, ser sócio da Zona Franca, desde que tenha sempre princípio de respeito pelo próximo, acho que é um princípio básico da associação”
Projetos

A Zona Franca é também rica pelo desenvolvimento e divulgação de projetos, que são descobertos muitas vezes por acaso e que, até então, não tinham um sítio onde pudessem estar. É no pátio, numa zona que se encontrava com “bagunça, lixo e mal aproveitada” - como cita Sara - que estão a ser desenvolvidos três principais projetos - “Lá Tinha”, “Atelier Ser” e “Las Piteadas”.
​
“Lá Tinha” surge da ideia de criar uma máquina fotográfica, a partir de latas de conserva, dando a possibilidade às pessoas que não têm tanto a possibilidade de adquirir uma máquina fotográfica, de ter acesso a algo equivalente, de forma divertida e que é fruto da criatividade.
O Atelier Ser é um projecto itinerante - usa uma bicicleta - e consiste numa oficina de serigrafia - um processo de impressão de imagens ou textos numa superfície na qual a tinta é vazada, pela pressão de uma espátula ou um rodo através de uma tela preparada para o efeito - surgiu em 2016, por vontade de Bruno Lavos e Diogo deCalle, dois amigos. O cariz do projeto está ligado, essencialmente, a arte pública e consciência ambiental.
​
Bruno explica que “já tinha o projeto, que é um projeto de serigrafia de arte participativa. E então viemos para aqui divulgar o projeto e montarmos a nossa oficina. A par disso, temos de fazer os nossos trabalhos”.
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
​
O que Bruno e Diogo fizeram passou por construir na Zona Franca “uma mini oficina artesanal em que as coisas não fixas. Consoante as necessidades o espaço vai-se adaptando”. A receção ao projeto foi “espetacular”. Bruno conta que o atelier que a associação lhes “abriu as portas para ter assim um sítio para poder desenvolver esta dinâmica, o que também é bom, porque as pessoas assim sentem que a Zona Franca também tem outra espécie de ofertas culturais e artísticas”. Neste atelier, xs sócixs, visitantes habituais e amigxs podem “praticar um ofício ou uma prática através da manualidade e do fazer”. Basicamente, o processo passa por essas duas técnicas mencionadas, mas sempre tendo por base “a prática do fazer”.
​
A principal ideia deste atelier “é abrir workshops às pessoas”, refere Bruno. Os participantes destas iniciativas “podem realizar os seus próprios projetos aqui utilizando os materiais”. Na sua visão, os workshops “são bons para as pessoas aprenderem não só a técnica, mas também a funcionar com o espaço”.
“Trabalhar a arte no espaço público” é o grande forte dos criadores do Atelier Ser. Para divulgar os trabalhos, marcam presença em alguns festivais, como o Festival de Literatura, em Pombal. Bruno explica que os sítios e festivais onde estão presentes são aqueles “que querem ter uma oferta cultural variada no espaço público”. Paralelamente à oficina na Zona Franca e às presenças em festivais, este atelier tem também um lado pedagógico e realiza workshops em escolas desde o primeiro ao segundo ciclo. “São workshops que introduzem a manualidade desta técnica, também para eles [alunxs] terem um bocado de expressão plástica. São práticas”, clarifica.
​
O atelier desloca-se para os eventos com a oficina montada na bicicleta e é aí que “as pessoas estampam elas próprias t-shirts ou o que elas quiserem”.
​
Um dos projetos que trabalha também com o Atelier Ser é Las Piteadas, um projeto de João e Valentina, que se baseia em educação feminista - pegar em obras de arte conhecidas e transformá-las em algo feminista, desconstruindo conceitos, que estão interiorizados na sociedade.
​
Há ainda espaço para projetos culturais, ligados à música, ao cinema, às artes plásticas e ainda à curadoria experimental. Há muitxs sócixs que tocam música e a Zona Franca também serve para poderem divulgar as suas criações, ajudando a associação a crescer culturalmente.
Um dos acontecimentos culturais recentes foi o Franc´Antónia, que consistiu numa recriação dos Santos Populares, mas de uma forma diferente da que é costume nesta altura. Em colaboração com o café do lado - Novas Nações - este evento serviu para “desmistificar um pouco a associação perante os moradores do bairro”.
​
A festa serviu para conhecer melhor as pessoas vizinhas, com uma programação cultural diferente. O “Mundo ao Contrário” foi um dos projetos mostrados nesta festa, atraindo um público diversificado, desde crianças a pessoas adultas.
​
Ainda assim, Sara diz que Zona Franca “ainda não é um espaço para crianças” e explica que “este espaço não é para crianças no sentido literal de foco nas crianças, mas é um espaço aberto”. Há sócixs da associação que têm filhxs e as representantes do espaço defendem que há abertura para que elxs xs levem até à Zona Franca. Na opinião de Rosa, isto “é tudo uma questão de consciência das pessoas que frequentam o espaço”. A equipa da associação não se imagina a fazer atividades exclusivas para crianças, mas apela a que “os pais que cá vêm e que se sentem à vontade para trazer xs filhxs para as atividades em que participam, podem continuar a fazê-lo”.
​
Estar neste espaço é sinónimo de estar em casa. Sara defende que a Zona não foi “feita para as pessoas de fora nem para ganhar lucro, está feito para as pessoas do bairro e dos arredores que precisam de algo diferente para estar, onde se sintam em casa. Eu, por exemplo, sinto que esta é a minha casa”. O caso de Rosa é semelhante - “iria odiar chegar e ter isto cheio de pessoas que não conheço, porque eu gosto de chegar aqui e sentir que é a minha casa”. A lógica mantém-se quanto a eventos - “fazemos eventos que trazem pessoas que se identifiquem com esses mesmos eventos. Queremos que quem cá venha sinta algo pelos projetos que estão a acontecer”.
​
Além destas iniciativas, este espaço tem também à sua disposição uma cantina, que todos os dias traz duas opções para a mesa, sendo que uma delas é sempre vegetariana ou vegan. O vegetarianismo foi inserido na ementa da cantina porque se aperceberam que "há cada vez mais pessoas que optam por esse estilo de alimentação”, justifica-se Rosa ao dar a entender que a maior parte dxs associadxs do espaço seguem esta dieta.
​
A Zona Franca conta, atualmente, com cerca de 2080 sócixs. Deste total, cerca de 100 são aqueles que visitam o espaço habitualmente. Todxs xs que fazem parte da associação têm projetos e trabalhos extra. Financeiramente, a gestão é feita “através de contribuições” - revela Rosa - explicando que os eventos são o que lhes traz "mais fluxo financeiro. Mas claro que isto implica sempre uma grande dedicação nossa e por parte de quem efetua os eventos. Funcionamos sempre em regime nuclear”.
Bruno explica como conhece a Zona Franca e como o seu atelier faz parte da associação
Fotografias produzidas no projeto "Lá Tinha"
Espaço do atelier de serigrafia
​Sócixs
Há pessoas que já são sócixs há anos e costumam ir lá regularmente, como há quem apareça uma vez e não volte ao espaço. Tanto de Portugal, como do estrangeiro, a Zona Franca é aberta a quem desejar entrar.
Hannah Lei Han vem do Canadá e esta é a primeira vez que está em Portugal. Escolheu a Zona Franca para a sua primeira refeição. Chegou, tornou-se sócia e sentiu-se em casa.
​
​
​
"É maravilhoso, consegues ver que as pessoas estão a gostar do ambiente, a ter uma boa conversa e a passar um bom tempo aqui. É muito bonito. É a minha primeira refeição em Portugal, experimentei marisco e é muito bom."
​
Guilherme nasceu em Faro, mas vive agora em Lisboa e já é frequentador assíduo da Zona Franca.
​
​
​
​
​
Flora é francesa, mas está a viver agora em Portugal e é sócia da Zona Franca há três anos. Traz com ela uma amiga, Aline, que conhece o espaço pela primeira vez.
​
​
​
​
​
​
​
"Eu gosto, mas não conheço muito do espaço. Eu sinto que é um bocado como em casa, toda a gente pode fazer o que quer."
​